O Risco de Pensar Estratégico
Pensar em grandes estratégias, especialmente no mundo da tecnologia, tem seus riscos. E tem suas graças, também. Aqui reproduzimos frases famosas de líderes empresariais de peso que se mostraram totalmente furadas. É para ler, refletir, respirar fundo antes de surgir uma nova visão estratégica.1- "Creio que exista um mercado mundial para algo como cinco computadores" - Thomas J. Watson, Chairman da IBM, 1943
2- "Não consigo pensar em qualquer razão para que um indivíduo possa querer ter um computador em casa" - Ken Olsen, Fundador e Presidente da Digital Equipment, 1971
3- "O Concorde chega para decretar o fim da aviação comercial como a conhecemos" - Marvin McFarlane, analista da indústria da aviação comercial, na Feira de Farnborough, 1976
4- Bill Gates, fundador da Microsoft, em seu livro "The Road Ahead", de 1995, não antevia a internet como a grande "Estrada à Frente"
5- Em 1999, a Motorola e um consórcio de empresas lançavam ao espaço 66 satélites de órbita baixa para oferecer um serviço de telefonia sem fio com cobertura global, o Iridium, que não chegou a atingir 1% do total de usuários esperados
6- 2007, Millôr Fernandes, em VEJA:
Olho meu relógio de pulso, última palavra da tecnologia.
Mas é feito com quartzo - um cristal triámico, com 60 milhões de anos.
A Rede é o Computador.. Finalmente!
Há mais de uma década, John Gage pronunciou a famosa frase e a SUN vem dizendo que "The Network is the Computer." Essa talvez tenha sido a frase de maior visão estratégica, mas, ao mesmo tempo, custou à SUN uma posição que poderia hoje representar a liderança de mercado. Mas a SUN queria que a rede e a tecnologia fossem de sua concepção. A internet manteve a visão, mas não a sua materialização, de forma diferente.
Na data de postagem desta matéria (28/06/2007), FRANCISCO MADUREIRA, Editor do UOL Tecnologia, publica interessante entrevista com Asa Dotzler, fundador da Mozilla, que prevê que a versão 4 do navegador Firefox vai apostar na centralização de recursos de redes sociais e na aproximação de pessoas.
A entrevista vale a pena ser conferida na íntegra. Mas vale a pena reproduzir aqui sua visão do browser, que mostra que, finalmente, a rede é o que conta:
O guru da Mozilla faz uma previsão ainda mais drástica: o futuro será a Web, e não o computador. "O navegador será praticamente um sistema operacional em segundo plano, carregado de programas como processador de texto, planilhas, apresentações, e-mails e mensagens instantâneas, todos acessados pela Internet."
Quem está no ramo de TI já não pode duvidar que a rede é o computador, ou, talvez até o inverso, que o computador é a rede.
Tanto faz... o fato é que, provavelmente, o Windows Vista representa a última geração de um sistema operacional pesado que faz tudo em um computador pessoal, onde a internet é apenas um conduto entre o seu e os demais computadores do mundo.
Chegamos ao futuro.
A Era das Contrações - e Contradições
Parece incrível: em plena era da globalização, parece que vivemos movimentos contraditórios que levam aos fundamentalismos e protecionismos de vários passados. No tema fundamentalista, além dos praticados por países e grupos islâmicos seletos -mas crescentes, sem trocadilhos- outras formas menos perceptíveis estão ocorrendo em movimentos perigosamente tectônicos.
Os Estado Unidos claramente vivem uma era fundamentalista, sob a batuta de Bush e no desenrolar de atitudes pós-9/2001; a Igreja Católica vive momentos igualmente contrários à evolução da história; a América do Sul afunda-se no populismo demagógico e assistencialista, de A a V, da Argentina a Venezuela, e parece que a coisa se espraia, numa visão da década de 50n sem os encantos daquela época.
Se formos examinar movimentos africanos, vemos que a ordem é fundamentalizar, ou seja, princípios imexíveis se sobrepujando à lógica, ao bom senso e a regras mais elementares de convivência.
O fundamentalismo depredatório é contraposto ao fundamentalismo ecológico, e aí só aumenta a devastação e as evoluções sustentáveis são contestadas por movimentos dos eco-xiitas.
Quanto menor o PIB per capita de um país, mais o fundamentalismo de assegurar os direitos das elites se prevalece sobre o bem comum; o contraponto é a linha populista da distribuição forçada de renda e o centralismo do Estado, que nada mais faz do que acentuar as diferenças.
O fundamentalismo de proteger o sabiá de pelo dourado (que nem existe) é oposto à recusa dos Estados Unidos em aderir ao Protocolo de Kioto, que, em última análise, beneficiaria a própria nação americana.
O incrível é que tudo isso ocorre diante da mais profunda revolução tecnológica, epitomizada pela internet, que, por sua vez, permite a disseminação de barbaridades ao mesmo tempo que abre janelas incríveis ao conhecimento humano.
Será que temos saída?
Bubble Bug
(This article was originally published in April, 2000. Still good for strategic thinking)
At long last, we saw the inflated stock market bubble burst. What was the excuse? The ruling by U.S. District Court Judge Thomas Penfield on Microsoft’s alleged monopoly. The aftermath, as we saw, was the bull-turned-bear-well-maybe-not-quite effect that made all those triple-digit p/e technology stocks tumble.
Is Judge Penfield to blame for the vaporization of hundreds of billions of dollars worth of tech-stocks? Well, not quite…
As I watch NASDAQ’s ticker on April 6, Thursday, with most figures turning green again, I come to realize that the newest by-product of the New Economy is NASDAQ itself. With most of its bulk operators running sophisticated programs to track portfolios, some with proprietary AI (Artificial Intelligence) modules built into, NASDAQ’s critical operations are mostly decided by computers, not humans.
And, although most AI algorithms may differ, they will share roughly the same strategy, which is to maximize returns for investors on a snap. Besides that, most market information today is widely available through the Internet, so there aren’t too many “new secrets” around. All the moves are emotionally built into the programs’ logic, in similar ways.
Was the burst inevitable, predictable? Well, no doubt about it. As it was also reasonable to predict that after a couple of large drops (2 consecutive “largest-in-history” for that matter), investors would come back again to play with profits and avoid further drops.
Whith most tech stocks still overvalued, the investor market will not recognize that. We may see further declines in the indexes, but not likely experience a huge crash, which would send many new billionaires straight to the streets to sell, well, Apples!
The reason why most long-term small investors need not worry is that every stock market professional has roughly the same mindset. Information Technology is more than just the New Economy’s powerful engine. It is the investors’ too! As information, decision and trading are done in the milliseconds, there are hundreds of millions of decision cycles within every stock-market day. With similar patterns, similar flavors.
So where will this whole thing lead us? Probably not too far off from where we are today. The Bubble Bug has been identified, but not eliminated. It is, on IT jargon, on quarantine. Unless some new financial genius devises a new model, we will watch the NASDAQ stocks performing pretty well over the years.
Eduardo Guy de Manuel
April 6, 2000
As Hortênsias do Guy
Cidades cidades@parana-online.com.br
Assim é a vida - Gladimir Nascimento [ 10/02/2004 ]
especial@parana-online.com.brOs "cases" são provavelmente a maior parte da literatura de Administração, e a maioria dos autores os escolhe não somente pelos aspectos técnicos, mas principalmente pelo porte das companhias envolvidas. Só "cases" de multinacionais ficam famosos, apesar de haver muito a aprender em cada compra, em cada venda, cada episódio do cotidiano de qualquer empresa, como essa que o empresário curitibano Guy de Manuel conheceu numa viagem de lazer a São Bento do Sul, em Santa Catarina, e que ele vem divulgando como exemplo de visão, atendimento às necessidades do cliente e perpetuação do negócio.
"Cheguei lá na sexta, à tardinha, com minha esposa", conta o Guy, que viajou para "recarregar as baterias, fazendo nada". No caminho do hotel, que fica no topo de um morro, "as hortênsias estavam floridas, lindas como nunca", e então ele se deu conta de que havia esquecido a máquina fotográfica. No sábado, foi procurar uma câmera descartável no comércio local. Numa vitrine, botou o olho nas novas máquinas digitais (Informática é a área de trabalho do Guy). Conversando com o dono, comentou, por brincadeira, "sem nada em mente", que o que gostaria mesmo era uma daquelas, emprestada ou alugada, para fotografar as hortênsias". Esse comentário bastou para Pedro, o comerciante, percebesse imediatamente um novo filão.
"Ele, sem me conhecer, disse: Olha, vou fazer uma coisa que nunca fiz, mas sinto uma energia positiva em você. Pegou uma câmera de 2 megapixels, colocou bateria, abriu um estojo novinho e disse para eu levar, emprestada, e devolver quando terminasse".
Guy fotografou as hortênsias, devolveu o material, viu uma demonstração prática de bom atendimento, saiu falando bem da Marlisa Fotos, de São Bento do Sul, para todos os amigos, e Pedro deverá diversificar os negócios, atuando no recém-criado ramo do aluguel de câmeras digitais.
Telecomunicações privatizadas - 8 anos depois: Como estamos?
O recente anúncio de um aumento da base instalada de celulares em mais de 40% em 2004, mais a singular notícia que Brasília tem mais celulares que habitantes (por quê?), vale uma pequena reflexão sobre como estamos nas telecomunicações hoje, quase 8 anos após a privatização das teles.
Se levarmos em conta o susto das contas e as reclamações no Procon, vamos mal. Afinal, as operadoras são líderes nas queixas, e todo mundo –eu inclusive- tem histórias de horror para contar.
No entanto, se levarmos em conta que antes da privatização telefone fixo era um investimento rentável (3.000 dolares uma linha fixa, rendendo 2% ao mês) e disponível para poucos, e celular então, uma raridade, para aqueles analógicos que sempre estavam fora da área de cobertura, então hoje estamos bem melhor.
Em 1995, o link da Internet para todo o Paraná era 128k. Hoje, o mínimo de uma conexão de banda larga é o dobro disso, para cada usuário. Então, um usuário ADSL hoje tem o dobro da banda que tinha o Paraná inteiro em 1995...
Celular hoje é commodity, e o acesso disponível para pessoas de todos os estratos de renda mostra isso. A vida de muita gente que trabalha como autônomo, inclusive diaristas, jardineiros, manicures, moto-boys e outros, permite que seu trabalho seja mais valorizado e a renda, idem.
Telefone fixo, então, acabou aquela especulaçào e os serviços estão disponíveis. A guerra de tarifas para DDD e DDI é salutar e, embora com alguma dissimulação quanto aos preços, as operadoras disputam mercado usando práticas muito mais parecidas com o marketing de cerveja do que a de produtos elitizados.
Duas constatações sobre as reclamações crescentes: uma é qua as operadoras realmente não estão ainda com o foco devido no cliente, e sim em aumentar sua base instalada; a outra é que, como temos muito mais clientes no mercado, as reclamações também cresceram.
O saldo é positivo!
Tecnologia é a mãe!
Li outro dia que a FIFA vai estrear em setembro, no campeonato sulamericano sub-17 no Peru, a “bola inteligente”. É a evolução daquela que já conhecemos, só que com um chip, um sensor e um transmissor, que vai mandar um sinal ao juiz e ao quarto árbitro, que avisa se/quando a bola passou da linha do gol.
Com certeza, se a experiência funcionar, os erros do árbitro vão diminuir. Mas, por ouro lado, pode estar começando a sair de campo uma das principais personagens do jogo, a sra. Progenitora do Árbitro.
Isso aí não sei se é bom ou ruim, se evolui ao ponto de não precisarmos mais de juiz, e sim de um robozinho, ou, lá na frente, pensarem em colocar chips nas chuteiras ou nos cérebros dos jogadores. Mas isso é discussão para outra hora.
O que me dei conta, com essa “Smart Ball”, é que acaba uma importante fonte de descarga de adrenalina. Afinal, quando há um gol em que existe alguma dúvida em sua legitimidade, a invocação da mãe do juiz é normalmente uma boa desculpa para os torcedores do time que levou o gol. Nada de falar no frango do goleiro ou da falha na defesa. Afinal, é o time do seu coração. A culpa é daquela senhora pacata que, há algumas décadas, colocou esse filho no mundo que hoje, com um apito na boca, anota um gol injusto para o time adversário. Então, “elogios” para a senhora!
É... a tecnologia a serviço da sociedade. Será?
My God, it talks!
(Peter II, Emperor of Brazil, while testing the newly invented device, the telephone at the New York World Fair in 1876)
At last, everybody appears to be bullish about the telecom market in emerging countries: Governments from any part of the political spectrum, the state-run monopolies, legislators and corporations of any size that have products and services for telecommunications seem to agree: the time is now.
The reasons for that abound: Ideology is no longer big issue; governments are having trouble to finance the basic services it is supposed to deliver, let alone invest in areas like telecom; the global market has come of age, and economic frontiers are getting blurred; the market for telecom products and services in developed countries is experiencing slower growth as it replaces / enhances much more than it gets new clients; finally, capital is available to invest in hot-growth markets.
What could possibly go wrong? Good old Murphy looms over there to predict where and how it can go wrong.
The initial assumptions only reflect the cozy nest.. To fully understand what lies ahead, let's do a brief tour to the past, back in the mid 60's.
Back then, the developing nations had almost no telecommunication services. Long distance was still done via operators and analog radio. Waiting 8 hours to place a call was part of the game.
The local telephone operators were often private. Almost all were multinational companies, unwilling or unable to invest. They had better markets at home and the tariffs in these distant countries did not provide adequate revenues, let alone returns on investments. Actually, some of these companies pulled out, while others were forced out.
At that time, financing was available to governments. The post WW II nationalism and the Cold War moved from doctrine to affirmation as easy money began to be pumped into government coffers. That was the beginning of the golden age for the state-run PTT's.
The oil shock of 1973 literally switched the balance to the OPEC cartel, whose governments were flooded with cash. Besides buying into cheap real estate in the developed nations, it started to lend heavily to developing nations. To just about any type of project.
Countries like Brazil benefited from this situation, building state-of-the-art, state-owned telecom system. It was not ideology alone that drove the telecom industry to government hands. It was real money.
Back to 1996: Real money is now available to private companies, not to governments anymore. Ideology will no longer be sustained by empty pockets.
It is fairly reasonable to assume that privatization will be an unstoppable trend, for the foreseeable future. Questions: will telecom services remain in the hands of private companies? Will telecom density and traffic really increase?
The answer is a plain, simple "yes", provided we learn from past mistakes. Let us pay attention to an actor who is often left behind the scenes, the consumer. It is reasonable to affirm that past telecom policies and corporate actions in developing markets never had the consumer in mind. If this is changing, then maybe we have a sustainable model. Long-term commitment to the client, that's the winning formula.
Stable democracies, a more "civilized" inflation, and the urgent need to leave back the dreadful 80's are the backbone to the revolution that is taking place in most South American Countries.
The Continent is undergoing major changes, and telecom infrastructure is the single most important item to indicate where economic activity will take place, after political and economical stability have been achieved.
The good part of the story is that, while almost any nation is going in the same direction, and that is the direction of modernization, the models, speeds and current stages are strikingly different.
Chile has a state-of-the-art telecom system, competition there is fierce and much more aggressive than even here in the U.S. Others are in the middle of the road, and Brazil, the Continent's largest market, is just now beginning to take concrete actions to bring investments and technology into the telecom market.
One important factor to be considered is that consumers in South America, may not be looking for replications of the developed world's telecom networks.
To stress this point, let us imagine that, overnight, the entire U.S. telecom network vanished, through a massive action of a special breed of bugs from outer space that would do the job in a few hours and then would go home.
The next hypothesis would be that enough capital would be available to rebuild the network in a very short period of time, and that all the manufacturers had surplus inventories of cable, switches, computers, software, handsets, routers, satellites, you name it...
One of the probable scenarios in the aftermath of this "New America Network" would be one (a) most, if not all of the wired backbone would be made of fiber; (b) the ratio of wireless / wireline terminals would greatly bend towards wireless; (c) the network would be 100% digital and (d) if insurance companies paid for the losses, the return on investments would occur much sooner.
It looks like South America is pretty much the land to build this "dream network". Alien bugs did not destroy our networks. Other types of bugs prevented us from building a decent one.
It will only be a natural choice for South American countries to have a 21st century network in place. This makes up for lower costs, smaller deployment times and, best of all, much more flexibility that wireless services offers for most of an individual's day-to-day telecom needs.
The costs per terminal of almost any wireless service will drop much faster than the wireline ones. This is one key factor to be considered when planning South America. Another point is that wireless services are, in general, less regulated.
Now for the opportunities. Today, the overall telecom market in South America is close to irrelevant, with few exceptions. Take Brazil: In 1994, the whole Telebrás system had a little over US$ 10 billion in revenues, which was less then 2% of our Gross Domestic Product. Telecom density is still closer to the desert than to the rain forest.
In developed countries, telecom products and services can and will top 10% of GNP, with telecom density moving to virtual universality.
In developed markets, telecom became a dominant industry only after it was accessible to almost any citizen; on the other hand, network traffic grew at a significantly higher pace than did the availability of a better, faster backbone and the number of terminals.
As the economics of telecom changed, unit costs come down sharply, market penetration went up sharply, and per capita use also increased dramatically.
Technology Futures Brasil figures out that the 1:10:100 rule-of-thumb applies well to these hot-growth markets in South America: from the current installed base (1), you have a traffic growth potential of 100 times, while making the overall sales grow 10 fold. Unit prices will, on average, decrease 10 fold.
Past technologies forced us to associate a telephone with wires and, therefore, to a physical site. In countries where telecom density began to grow in this decade, wireless devices are being and will continue to be put into operation faster than wireline ones. The "telephone" is regarded as a valuable personal possession, unlike the pervasive concept in developed countries that will consider a telephone as household or office appliances.
That is why wireless communication services will grow much faster in South America than in the U.S.. As the industry matures, market penetration for wireless will be significantly higher.
About 120 years ago, our emperor, Peter II, visited the World Fair in Philadelphia. It was then that the wired telephone was being demonstrated by Alexander Graham Bell. The emperor, while test-driving the revolutionary invention, said, very candidly: "My God, it talks!" Today, he probably would probably not be able to have the same reaction if he tried to use most of installed telephones in the Continent, including cellular ones.
Back to the future, it is harvest time. And the telephone had better talk!
Considerações Sobre a Política Nacional de Informática - Uma Visão de 1984
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE INFORMÁTICA
APRESENTAÇÃO À COMISSÃO MISTA DO CONGRESSO PRESIDIDA PELO SENADOR VIRGILIO TAVORA
Eduardo Guy de Manuel
Presidente da ASSESPRO - NACIONAL
Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Informática
Brasília, 11 de setembro de 1984.
1 - A INFORMÁTICA HOJE E NO FUTURO
De repente, a sociedade brasileira acordou para a informática. Discute-se sobre seus impactos, seus benefícios, sua capacidade de gerar ou extinguir empregos, e mesmo sob os aspectos relativos à área social e sua importância estratégica como ferramenta de soberania nacional.
A grande quantidade de projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, exibindo uma ampla gama de opiniões e conceitos, e a ênfase com que o assunto vem sendo tratado nestas casas legislativas, demonstra a preocupação de nossos Congressistas em corretamente definir um modelo duradouro para a informática, no Brasil.
Para melhor embasar nossa exposição, vamos colocar em discussão alguns parâmetros, que, ao nosso ver, são importantes para a definição do modelo de informática mais adequado ao Brasil.
A “invasão” dos computadores, tal como a vemos hoje, é apenas a ponta do iceberg dos campos de aplicação da informática em 1984, estima-se que os dispêndios mundiais no setor alcancem a 250 bilhões de dólares. Um valor expressivo, sem dúvida. Mas, ao levarmos em conta os números previstos para a virada do século, que montam a 5 TRILHÕES de dólares, ou 20 vezes mais, em apenas 15 anos, somos obrigados a refletir um pouco mais.
O fator 20 de crescimento, traz em seu bojo três interpretações nem sempre muito claras:
- O preço unitário dos equipamentos e serviços de informática vem decrescendo assustadoramente, a níveis mundiais. Logo, a multiplicação dos usuários de informática se dará a um fator próximo de 200 VEZES, em apenas 15 anos.
- A extensão das suas aplicações é hoje ainda mal avaliada, por conseqüência. Não podemos imaginar este crescimento baseado apenas no aumento de usuários para as aplicações que conhecemos hoje. É razoável supor que seu uso se espalhe intensamente para as áreas que vão da automação industrial ao ensino de todos os níveis; do diagnóstico (e talvez prognóstico) na medicina à meteorologia, passando pelas ciências exatas, sociais, humanas. Enfim, espera-se que a informática seja colocada à disposição de todos os ramos de conhecimento e atividade humanos, para SERVIR ADEQUADAMENTE À SOCIEDADE;
- A disseminação da informática, como recurso-meio das atividades humanas, vai requerer, além de tecnologia evoluída em seu USO, como também de recursos muito grandes para pesquisa, visando torná-la útil em todos os campos. E capacidade de produção de uma infinidade de insumos, componentes e produtos acabados em uma escala industrial jamais imaginada há alguns anos atrás.
Em cima disso tudo, cabe uma pergunta: Será que uma nação, individualmente, pode pretender abraçar todas as disciplinas do conhecimento da informática, e colocá-las à disposição de seus cidadãos, em condições vantajosas, preservando ainda o domínio dos rumos estratégicos desta nova área do conhecimento humano?
Como decorrência, quais são os parâmetros mínimos que uma nação deve pretender dominar, de acordo com a soberana vontade de seus cidadãos, para que não fique ao reboque das nações e grupos econômicos mais poderosos, e assim entrar naquela que talvez seja a mais odiosa forma de dependência: a dependência da informação, do conhecimento e da capacidade de um povo definir seus próprios destinos.
A informática, sem dúvida, pode colocar nas mãos de governos e mesmo grandes empresas, poderes nunca antes imaginados. O perigo do Big Brother, de George Orwell, previsto em seu livro, por coincidência chamado “1984”, é muito maior do que pensamos.
Pobre daquele país que concentrar muito poder de decisão sobre a informática nas mãos de poucos, em especial se este poder não for rigidamente controlado pela vontade da sociedade. A concentração destes poderes, se em mãos de pessoas bem intencionadas e capazes, pode trazer benefícios incríveis. Mas e se as pessoas, suas índoles e suas ideologias não forem adequadas?
Basta fazer um pequeno exercício de fantasia histórica, e imaginarmos o que seria do mundo se Hitler e seus asseclas tivessem os recursos da informática de hoje em suas mãos. Sem falar daqueles que estarão no mercado nos próximos anos...
2- PARAMETROS PARA UMA LEGISLAÇÃO DE INFORMÁTICA
O Brasil, objeto de nossas permanentes atenções e preocupações, precisa, naturalmente, de uma legislação sobre a informática. Nosso primeiro modelo não será, certamente, algo pronto, acabado e perfeito.
A legislação básica deve permitir aperfeiçoamentos permanentes, para acompanhar a dinâmica do ramo, onde uma nova geração de computadores surge a cada 18 a 24 MESES, e onde os computadores com inteligência artificial já fazem a sua estréia em laboratórios de pesquisa.
Devemos levar em conta nossos interesses estratégicos, visando preservar a soberania do Brasil, como nação independente, política, econômica e “informacionalmente”.
Os recursos tecnológicos e financeiros devem ser corretamente avaliados, para não transformarmos nossas aspirações de independência tecnológica em atrasos sociais que aumentem exponencialmente a distância que hoje nos separa das nações mais prosperas.
Não devemos, com certeza, deixar que os poderes de decisão sobre os rumos da informática nacional estejam concentrados em pessoas ou órgãos, cujas atividades não possam ser rigidamente controladas, fiscalizadas e cobradas, dada a importância estratégica da sociedade.
Nossos recursos são parcos; mesmo assim, já dispomos no país de um considerável acervo tecnológico. Não devemos, não podemos desperdiçá-los.
Os diversos setores da informática, representados por entidades de classe, cuja importância no cenário nacional cresce, dia a dia, devem estar permanentemente representados nos organismos formuladores, executores e controladores da Política Nacional de Informática, junto com representantes de governo e de consumidores, ou usuários.
A Política Nacional de Informática deve levar em conta os princípios básicos da Democracia e da Livre Iniciativa, esta última como única forma adequada de manter a indústria competitiva, gerando sempre melhores produtos aos seus usuários.
Deve, sobretudo, contemplar com especial ênfase e carinho o setor de serviços, que será o mais significativo da informática, nos próximos anos, e onde o Brasil já demonstra especial capacitação, ao ponto de ser um incipiente mas promissor exportador de programas e sistemas de computação, para países como os Estados Unidos e a Alemanha Federal.
Os usuários, atuais e futuros, devem merecer a maior das atenções, não só porque pagam as contas, mas porque precisam de recursos informatizados potentes e eficazes, de modo a gerar produtos e serviços cada vez mais eficazes e competitivos, pois só deste modo o Brasil pode pretender ingressar de vez no rol das nações prósperas e desenvolvidas.
Mecanismos de proteção à empresa nacional de informática são indispensáveis, para criar condições de termos a médio prazo, a dura concorrência dos mercados externos, e prover o mercado interno com ferramentas eficiêntes.
A proteção deve, no entanto, ser transitória, de preferencia declinante no tempo, para não gerar acomodações e ineficiência, que, por sua vez, acarretariam em progressivo isolamento para o país, preços sempre mais altos ao usuário final e perda de competitividade em seus produtos.
Não podemos ignorar a reserva de mercado, que já perdura no Brasil há dez anos, para a fabricação de computadores e seus periféricos. Negá-la agora, ou discutir sua viabilidade, seria por a perder todo um esforço que levou à criação de centenas de fabricantes nacionais, e a perto de mil empresas de software e serviços, a maioria das quais dependem dos fabricantes nacionais, para seu mercado.
São dezenas de milhares de empregos diretos criados, que devem ser preservados e mesmo estimulados à multiplicação, para acompanhar o crescimento da informática.
Mas a tecnologia, os recursos financeiros e, principalmente, os mercados estrangeiros, não podem, não devem ser postos de lado. Eles são vitais, para uma informática nacional forte e definitiva, no cenário mundial.
3 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROJETO DE LEI DO GOVERNO
Inegavelmente, a proposição do governo é ordenada, aborda o problema da indústria de hardware e microeletrônica de forma a retratar suas preocupações quanto à viabilização da indústria nacional.
O problema do software, talvez mais relevante e estratégico, é tratado tangencialmente, na medida em que se trabalha febrilmente na montagem de um projeto específico para o setor, e que, esperamos, será trazido à apreciação do Congresso Nacional o mais breve possível. Neste projeto, a ASSESPRO vem procurando fornecer os melhores subsídios, bem como gostaria de debate-lo intensamente com os Congressistas, bem como vê-lo aprovado no menor prazo possível, dada sua relevância.
Voltando ao projeto em pauta, temos algumas preocupações, que se materializam pela análise dos pontos que já abordamos, e que passamos a sumarizar abaixo:
A Comissão Nacional de Informática deve ser democratizada. A participação das entidades de classe do setor deve ser, no mínimo, paritária, em relação à representação de órgãos governamentais.
A indicação dos representantes à CNI deveria originar-se da vontade das entidades representadas, talvez com referendo do Congresso Nacional. Desta forma, evitaríamos, para sempre a manipulação de sua constituição, visando a atender interesses específicos de grupos, e também uma indevida concentração de poder em poucas mãos. Se hoje a concentração de poderes na SEI traz resultados, na média, favoráveis, deve-se ao fato circunstancial de termos pessoas certas nas posições chaves. Mas a formulação de uma Política Nacional de Informática, não pode pressupor que a situação atual vá permanecer.
O prazo previsto para a reserva é mais do que razoável. Oito anos, mais os dez passados, significam o equivalente a mais de um século, para indústrias tradicionais. Não podemos fechar-nos por um período maior, sob pena de sermos riscados de vez, do quadro das nações aspirantes a entrar em campo no time principal.
Todo o esforço do Estado, inclusive no que toca à pesquisa básica, deve contar, obrigatoriamente, com a colaboração da empresa privada nacional. Esta deve sempre ser fortalecida, para que se torne permanentemente competitiva, e também para que o modelo de informática seja condizente com o sistema político do Brasil.
Para que não caiamos em mais uma letra morta, a PNI deveria dar ênfase, ou mesmo, quem sabe, restringir-se àqueles tópicos que possam ser realmente cumpridos, na prática. Uma excessiva abrangencia pode limitar o desenvolvimento de determinados segmentos industriais, vitais para o País, forçando uma revisão da PNI, com os conseqüentes desgastes, para outras áreas. Em outras palavras, vamos legislar sobre um universo conhecido e plenamente ao alcance de nosso controle.
Como dissemos anteriormente, a legislação deve ser dinâmica para atender às crescentes inovações que precisam ser reguladas. Assim, é mais fácil ir, ao longo do tempo, incorporando novos requisitos, do que pretender legislar sobre TUDO, quando na prática, não poderemos controlar tudo.
A lei deve ser muito rigorosa, quanto à verificação e cobrança de programas de nacionalização e absorção de tecnologia em especial para empresas que se beneficiarem de incentivos fiscais, proteções aduaneiras ou verbas governamentais para pesquisa. Não se admite, com o s recursos de que dispomos, sejam premiados ou protegidos os empreendimentos que visam o lucro fácil, em detrimento da genuína fixação de tecnologia no país.
A oportunidade é impar, para fortalecermos nossas Universidades e centros de pesquisa, engajando-os neste esforço, fazendo com que mecanismos de incentivos às empresas passem, sempre que possível, por uma cooperação com esses nossos centros de cérebros, hoje tão marginalizados do nosso processo de desenvolvimento.
Uma palavra sobre o cidadão. É muito importante conceituar claramente, dentro da lei, os direitos do cidadão em conhecer as informações armazenadas sobre ele, nas bases de dados públicas. Ele deve, ainda, ter o inalienável direito de exigir alterações nesses dados, sempre que se revelarem incorretos, ou imprecisos.
Resguardar a privacidade do cidadão é o complemento indispensável. Devemos garantir a ele que determinadas informações sobre sua pessoa não poderão ser armazenadas ou utilizadas, visando proteger sua privacidade e individualidade.
É igualmente importante, que a PNI não esvazie ou invada espaços bem preenchidos por órgãos públicos já existentes, em especial os Ministérios da Indústria e Comércio e o das Comunicações. Estaremos desta forma, evitando a excessiva centralização de poderes, bem como utilizando-se de estruturas já existentes, com custos obviamente menores.
O problema do papel da empresa estrangeira, no desenvolvimento da informática no Brasil, parece-nos ainda não adequadamente debatido. Sem dúvida, nenhum brasileiro em pleno domínio de sua razão, deixaria de preferir empresas genuinamente nacionais dominando o mercado nacional e internacional.
Resta saber se podemos prescindir quase que totalmente a presença das chamadas multinacionais, ou se devemos evoluir para um aprimoramento de relacionamentos, visando obter um equilíbrio que, ao mesmo tempo atenda aos supremos interesses nacionais, conciliando com suficientes atrativos para que essas empresas se fixem no Brasil, dentro de uma nova ordem de relacionamento ainda não tentada.
A discussão sobre a informática NÃO PODE SER PASSIONAL, muito menos radicalizada. Há que sermos pragmáticos, sem abdicarmos de nossa soberania. Ao tornarmos nossas posições radicalizadas estaremos caminhando para um modelo de PNI passional que talvez atinja alguns objetivos importantes de curto prazo, mas que, no futuro, nos deixe nas mãos um conjunto de brinquedos inúteis, ineficazes e caros. E, o que é pior, obrigando-nos a rever nossa PNI, até agora tão altiva e com vários frutos positivos colhidos, para uma posição de humilhação, dentro de alguns anos.
Em informática, senhores Congressistas, alguns anos significam muitas gerações. E o tempo perdido não pode ser recuperado. Como legítimos representantes do povo brasileiro, conclamamo-os a discutir o projeto de lei sobre informática, com a serenidade que exigem as grandes decisões nacionais, para que a decisão final passe à história como um dos grandes serviços prestados pelo Congresso Nacional a seus representantes, o povo brasileiro.